Eucaristia: “inabitação mútua”

Lendo o artigo “Presença real de Jesus” de Monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova, me deparei com uma expressão diferente: “inabitação mútua”, dentro de uma citação do documento de São João Paulo II: Ecclesia de Eucharistia.

Fui procurar o trecho citado direto na encíclica Igreja da Eucaristia: “aincorporação em Cristo, realizada pelo Batismo, renova-se e consolida-se continuamente através da participação no sacrifício eucarístico, sobretudo na sua forma plena que é a comunhão sacramental. Podemos dizer não só que cada um de nós recebe Cristo, mas também que Cristo recebe cada um de nós. Ele intensifica a sua amizade conosco: 'Chamei-vos amigos' (Jo 15, 14). Mais ainda, nós vivemos por Ele: 'O que Me come viverá por Mim' (Jo 6, 57). Na comunhão eucarística, realiza-se de modo sublime a inabitação mútuade Cristo e do discípulo: 'Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós' (Jo 15, 4)”.

Sim, não havia erro. Jesus em cada comunhão sai de si, da sua habitaçãopara vir ao nosso encontro, para nos fortalecer, para estar perto de nós. E a recíproca deve ser verdadeira! A cada missa, cada vez que nos aproximamos do altar do Senhor, precisamos sair de nós mesmos, sair do nosso “mundinho”, do nosso egoísmo, de um intimismo; sair da nossa zona de conforto, da nossa habitação. SãoJoão Paulo II nos chama para este comprometimento necessário de cada missa: “O que Me come viverá por Mim”.

A morte emblemática de Dom Oscar Romero (El Salvador), que recentemente a Igreja o declarou beato, mártir da fé e do povo sofrido da América Latina,  comove, pois foi assassinado numa missa justamente no momento da consagração. Seu sangue se misturou, no altar, ao sangue redentor de Jesus. Exemplo marcante desta comunhão completa, querida pelo Senhor: “Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós”!

Enfim, desde que entendi a expressão “Inabitação mútua”, as missas das quais participo se tornaram, além de um necessário momento de “abastecimento” pessoal, um desafio para mim. Preciso retribuir esta extraordinária manifestação de amor de Jesus, colocando-me a serviço do evangelho, “discípulo missionário” em saída para os que mais precisam, os necessitados.

 

Fonte: Osvaldo Luiz Silva é jornalista, autor do livro "Ternura de Deus" pela Editora Canção Nova e editor da Revista Canção Nova. Membro da ACLA - Academia Cachoeirense de Letras e Artes em Cachoeira Paulista/SP.